Gotas de beleza

"A pintura nunca é prosa. É poesia que se escreve com versos de rima plástica". (Pablo Picasso)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

São Francisco de Assis

"Luz que brilhou no mundo"
Dante Alighieri

No dia 4 de outubro celebramos o dia de São Francisco de Assis

São Francisco Meditando,  (1595), El Greco

A "Oração da Paz"  é atribuída a São Francisco por transmitir a mesma filosofia praticada por ele, por isso é conhecida também como "Oração de São Francisco".  Abaixo uma reflexão sobre essa oração.
 
Senhor,
Fazei de mim instrumento de vossa paz.

E que eu encontre primeiro, em mim,
a harmoniosa aceitação de meus opostos.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Aceitando o ódio que possa existir em mim e compreendendo todas as faces com as quais o amor pode se expressar.

Onde houver ofensa que eu leve o perdão
E que me permita ofender para ser perdoado

Onde houver discórdia que eu leve a união.
E que eu aceite a discórdia como geradora da união

Onde houver dúvidas que eu leve a fé.
Podendo humildemente, encarar minhas próprias dúvidas

Onde houver erros, que eu leve a verdade.
E que a "minha verdade" não seja única, nem os erros sejam alheios.

Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
E possa, primeiro, conviver com o desânimo sem me desesperar.

Onde houver tristeza, que eu leve alegria.
E possa suportar a tristeza minha e dos outros sendo alegre ainda assim.

Onde houver trevas que eu leve a luz.
Após ter passado pelas "minhas trevas" e ter aprendido a caminhar com elas.

Oh, Divino Mestre...

Fazei que eu procure mais: consolar que ser consolado.

E que eu saiba pedir e aceitar consolo quando precisar.

Compreender que ser compreendido,
E me conhecer antes, para ter melhor compreensão do outro.

Amar que ser amado,
Podendo me amar em princípio, para não cobrar o amor que dou.

Pois é dando que recebemos.
E sabendo receber é que se aprende a doar.

É perdoando que se é perdoado.
E não se perdoa a outro enquanto não há perdão por si mesmo.

E é morrendo que se nasce para a vida eterna.
E é bem vivendo e amando a vida que se perde o medo de morrer!


Oração da Paz, texto original escrito no século XX, na França.
Belle prière à faire pendant la Messe
Seigneur, faites de moi un instrument de votre paix.
Là où il y a de la haine, que je mette l’amour.
Là où il y a l’offense, que je mette le pardon.
Là où il y a la discorde, que je mette l’union.
Là où il y a l’erreur, que je mette la vérité.
Là où il y a le doute, que je mette la foi.
Là où il y a le désespoir, que je mette l’espérance.
Là où il y a les ténèbres, que je mette votre lumière.
Là où il y a la tristesse, que je mette la joie.
Ô Maître, que je ne cherche pas tant à être consolé qu’à consoler, à être compris qu’à comprendre, à être aimé qu’à aimer, car c’est en donnant qu’on reçoit, c’est en s’oubliant qu’on trouve, c’est en pardonnant qu’on est pardonné, c’est en mourant qu’on ressuscite à l’éternelle vie.


No idioma de Francisco...

Preghiera Simplice

Oh! Signore, fa’ di me um instrumento della tua pace:
Dove è ódio, fa’ chi’io porti l’Amore
Dove è offesa, ch’io porti il Perdono
Dove è discórdia, ch’io porti l’Unione
Dove è dubbio, ch’io porti la Fede
Dove è errore, ch’io porti la Veritá
Dove è disperazione, ch’io porti la Gioia
Dove sono le tenebre, ch’io porti la Luce.

Oh! Maestro, fa’ che io non cerchi tanto,
Ad essere consolato, quanto a consolare
Ad essere compreso, quanto a comprendere
Ad essere amato, quanto ad amare.
                        Poiché
Si è: Dando, che si recive;
        Perdonando che si è perdonati;
        Morendo, che si ressuscita a Vita Eterna.


"Apenas um raio de sol é suficiente para afastar várias sombras".
(São Francisco de Assis)

São Francisco nasceu em Assis, na Itália e era filho de um rico comerciante. Como todo jovem, aproveitou como podia sua juventude, até ter um sonho revelador que o fez renunciar toda sua riqueza e seguir a vida religiosa. Fundou a ordem dos Frades Menores, uma ordem mendicante e eram conhecidos como Franciscanos. Francisco e sua ordem renovaram o Catolicismo daquela época, pois não ficavam limitados aos mosteiros e templos, sua pregação era itinerante.
Assim como Francisco revolucionou a igreja, o artista italiano Giotto (c. 1267-1337), também revolucionou a pintura de seu tempo. Rompeu com a rigidez da arte bizantina e passou a dar volume e tridimensionalidade à suas obras. Giotto foi o primeiro artista a retratar Francisco como um ser humano de aparência comum, dando expressividade e sentimento à sua obra.
 
Giotto retrata São Francisco pregando aos pássaros.

São Francisco doa seu manto a um pobre,  Afresco - Giotto

São Francisco pranteado por Santa Clara, Afresco - Giotto

Renúncia aos bens mundanos, 1297-1299, Giotto 
Basílica de São Francisco de Assis, em Assis.

Francisco e seus companheiros diante de Inocêncio III, 1297-1299 - Giotto
Basílica de São Francisco de Assis, Assis.

Estigmatização de São Francisco (detalhe), c. 1300 (Museu do Louvre).


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os móbiles de Alexander Calder


“... uma sublimação de uma árvore ao vento”.
Marcel Duchamp acerca dos móbiles de Calder

Rouge Triomphant (Triumphant Red) (1959-1963)

Alexander Calder (1898-1976) nasceu na Pensilvânia-EUA. Desde muito cedo teve contato com a arte, seu pai era escultor e sua mãe pintora e além disso, quando criança construía seus próprios brinquedos. Era formado em Engenharia Mecânica e antes de se dedicar a escultura foi pintor e ilustrador.


O primeiro artista a explorar o movimento em uma obra de arte.

Quando Calder visitou o ateliê de Piet Mondrian, ficou fascinado com os enormes retângulos coloridos que o artista mudava constantemente de posição, a partir desse momento mergulhou no universo abstrato. Mas para Calder a arte não deveria ser rígida e estática, assim como Mondrian, ele queria uma arte que refletisse as leis do universo, que está em constante movimento porém, em perfeito equilíbrio e harmonia. Com este pensamento, deu início às suas esculturas que mudavam de posição conforme o vento e que Marcel Duchamp deu o nome de “móbiles”.

Quando vivo, Calder esteve no Brasil nos anos de 1948 e 1959, onde expos no Museu de Arte de São Paulo e em 1960 veio assistir o Carnaval do Rio de Janeiro e trouxe na bagagem uma maquete da escultura que deveria ser colocada na Praça dos Três poderes em Brasília. Porém, este projeto jamais fora executado. 

Em 2006/2007, o Paço Imperial do Rio de Janeiro recebe a exposição “Calder no Brasil”, que mostrou a estreita relação do artista com o país.

Quando se fala em “móbiles”, a primeira coisa que nos vem à mente são aqueles pequenos penduricalhos coloridos que enfeitam os quartos de crianças. Então, qual não foi minha surpresa quando eu vi aquela enorme escultura de ferro pendurada em uma sala do Paço Imperial e que balançava suavemente com a brisa do ar condicionado. Fiquei maravilhada! Calder, em sua genialidade, “consegue captar o movimento de objetos que são fadados por natureza à imobilidade, como o bronze ou o ouro” (Jean Paul Sartre).

O móbile de Calder:
Era um móbile pareceido com esse.

Calder me lembra muito Miró. Muitas de suas esculturas parecem as divertidas figuras de Miró que ele resolveu transportá-las do plano bidimensional para o tridimensional.



Utilizando meus "dotes" artísticos, resolvi criar alguns móbiles em tamanho menor (claro!)  utilizando arames e cartolinas.  Vi que não é nada fácil dar o equílíbio certo à peça. É preciso calcular bem a distância e o tamanho das placas coloridas para que você consiga o "equilíbrio" desejado. Viva Calder!

Perdoem-me pelas fotos e pela bagunça ao fundo, estávamos produzindo.
Mesmo em tamanho pequeno, deu trabalho.
Depois de pronto, presenteei a amiga Gabriela.
Dei o nome de "Dragonfly", tinha mais ou menos uns 30 cm.  A pintura da parede  não ajudou muito.
Ficou durante muito tempo pendurado na varanda lá de casa.

Fonte: História da Arte, Gonbrich.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Atrás de todo grande homem existe uma grande mulher

Há alguns anos, eu ganhei de minha amiga Luciana um livro chamado "Histórias para Aquecer o Coração das Mulheres", da editora Sextante. São várias pequenas histórias sobre experiências de vida, de amor a vida, sobre crianças, jovens, adultos, velhos... não sei se são histórias verídicas, mas o fato é que é um livro delicioso de ser lido.

A pequena história abaixo é uma das que eu gosto muito.


Atras de todo grande homem
existe uma grande mulher


Auto-Portrait (Tamara in the Green Bugatti), 1925
Atrás de todo grande homem
existe uma grande mulher

Thomas Wheeler, alto executivo de uma multinacional, viajava com sua mulher por uma estrada interestadual quando notou que o carro estava com pouca gasolina. Ele parou num posto muito simples, com apenas uma bomba de combustível. Pediu ao único atendente que enchesse o tanque e verificasse o óleo enquanto ele dava uma volta para esticar as pernas.
Ao retornar para o carro, percebeu que o frentista e sua mulher estavam num papo animado. A conversa parou enquanto Wheeler pagava pela gasolina. Mas, quando voltava para o carro, ele viu o rapaz acenar e dizer:

- Foi ótimo falar com você.
Ao sair do posto, o marido perguntou à mulher se ela conhecia o atendente. Ela imediatamente admitiu que sim. Tinham freqüentado a mesma escola e ela o namorara por cerca de um ano.

- Puxa, você teve sorte de eu ter aparecido – Wheeler se vangloriou. – Se tivesse se casado com ele, seria agora a esposa de um frentista de posto de gasolina em vez de ser esposa de um alto executivo.

- Meu querido – respondeu a mulher -, se eu tivesse me casado com ele, ele seria o alto executivo e você, o frentista do posto de gasolina.


Quando se fala o que quer, precisa estar sempre preparado para ouvir o que não quer.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O Senhor da Guerra

Nesses últimos dias só se falam em uma coisa: os 10 anos do atentado de 11/09. Uma data que ficará marcada para sempre na memória do povo, e assim como todas as guerras, um fato que ilustrará os livros de história de gerações futuras.  Mas, assim como no dia 11/09 se completam 10 anos dos atentados terroristas aos EUA, em agosto último fez 66 anos que os EUA bombardearam Hiroshima e Nagasaki, ceifando também milhares de vidas e deixando outras milhares com sequelas pelo resto da vida.
O que mais me incomoda em uma guerra, é que os Senhores da Guerra comandam tudo de uma sala aconchegante e uma poltrona confortável, enquanto milhares de vidas inocentes são perdidas em uma batalha que, na maioria das vezes, não é o desejo de muitos.

A história da humanidade está baseada tambem nas inúmeras guerras ocorridas ao longo dos tempo, e muitos artistas se inspiraram nesses acontecimentos trágicos para mostrarem sua arte.


Na escultura...
A vitória de Samotrácea ou Nice de Samotrácea
Escultura que representa a deusa grega Nice encontrada em 1863 nas ruínas do santuário dos grandes deuses. Uma das evidências é de que teria sido construída no ano de 200a.C para comemorar uma vitória naval de Rhodes.


Na pintura...
Guerra e Paz (1952/1956), Cândido Portinari
Painéis encomendado pelo governo brasileiro para presentear a sede da ONU em Nova York. De volta ao Brasil para serem restaurados, ficaram expostos por alguns dias no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em janeiro desse ano.



Guernica (1937), Pablo Picasso
 Painel de Pablo Picasso retratando o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em abril de 1937.



A Batalha dos Guararapes (1877), Victor Meirelles
Pintura do artista brasileiro Victor Meirelles sobre a Guerra do Paraguai.

Na poesia...

A AURORA FORA DE HORA, JJLeandro
(Hiroshima e Nagasaki)

A aurora que fes
Naquela hora
Não foi como
As outras de tantos
Dias
Que cegam os olhos
Dos homens pela beleza
E nunca pela energia.

A aurora que fez naquela
Hora
Se repetiu só mais um dia.
Foi artefato humano
Que imitou a rosa
Sem beleza nem serventia.

A aurora que fez naquela
Hora
Consumiu vidas – um desatino.
Na brincadeira de imitar Deus,
O homem foi só satânico
E não divino.
A aurora que fez
Naquela hora
Deixou só pó sobre o pó
E uma sentença prenunciada.
Em vez de perfume a radiação,
Pois rosa que é rosa
Nunca é imitada.

JJLeandro é jornalista, escritor e poeta nascido em Carolina-MA.  


Na música....

A Rosa de Hiroshima, Ney Matogrosso




Essa música marcou minha adolescência. Brothers in Arms, Dire Straits




E por último Legião Urbana, que cantou exatamente o que eu penso sobre a guerra. Além do vídeo coloquei a letra da música também.


A canção do Senhor da Guerra, Legião Urbana

Existe alguém / Esperando por você
Que vai comprar / A sua juventude
E convencê-lo a vencer...
Mais uma guerra sem razão / Já são tantas as crianças
Com armas na mão / Mas explicam novamente
Que a guerra gera empregos / Aumenta a produção...
Uma guerra sempre avança / A tecnologia
Mesmo sendo guerra santa / Quente, morna ou fria
Prá que exportar comida? / Se as armas dão mais lucros
Na exportação...

Existe alguém / Que está contando com você
Prá lutar em seu lugar / Já que nessa guerra
Não é ele quem vai morrer...
E quando longe de casa / Ferido e com frio
O inimigo você espera / Ele estará com outros velhos
Inventando / Novos jogos de guerra...
Que belíssimas cenas / De destruição
Não teremos mais problemas / Com a superpopulação...
Veja que uniforme lindo / Fizemos prá você
Lembre-se sempre / Que Deus está
Do lado de quem vai vencer...

O senhor da guerra
Não gosta de crianças...


A história da humanidade está baseada também nas diversas guerras ocorridas ao longo dos tempos, e muitos artistas se inspiraram nesses acontecimentos trágicos para mostrarem a sua arte.

domingo, 4 de setembro de 2011

Miguel Torga (1907-1995)

The seducer, Renè Magritte



A viagem

Aparelhei o barco da ilusão
e reforcei a fé de marinheiro
era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar..
Só a nós é concedida
esta vida que temos;
e é nela que é preciso procurar
o velho paraíso que perdemos.
Prestes, larguei a vela
e disse adeus ao cais,
à paz tolhida
Desmedida,
a revolta imensidão
transforma dia-a-dia a embarcação
numa errante e alada sepultura...
mas corto as ondas sem desanimar
Em qualquer aventura
O que importa e partir,
não é chegar.




Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.



Miguel Torga (1907-1995)
Poeta e contista, tido como um dos mais importantes poeta e escritor português do século XX.