Gotas de beleza

"A pintura nunca é prosa. É poesia que se escreve com versos de rima plástica". (Pablo Picasso)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Frida Kahlo, a amante da vida



“Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!”
(Esquadros, Adriana Calcanhoto)

Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón nasceu em 06 de julho de 1907, em Coyoacan, onde viveu grande parte de sua vida e compôs sua obra. Vida e obra marcadas por duplos – dor e luta; cores e vazio; alegria e morte – que, além de dizer muito sobre o México de sua época, transformaram Frida em uma das artistas mais expressivas e única na história das artes plásticas na América Latina.
Sonhos e tragédias que encontraram nos pincéis, nas cores e na própria vida de Frida Kahlo representações fascinantes, tanto por sua força quanto por sua criatividade.
Arte e vida nunca se separaram na trajetória da artista que via a si própria como exemplo do desde sempre conflitante encontro entre as culturas européias e indígenas.
As duas Fridas, 1939

(Duas versões, uma européia e outra asteca, são ligadas por vasos de sangue
 que nos remetem, tanto à vida quanto brotadas dessa união).

“Pés para que os quero se tenho asas para voar”
(1953 - trecho do diário de Frida Kahlo)

Dor: essa é uma palavra chave na historia de Frida. Aos 6 anos de idade contraiu poliomielite, que a deixou com uma perna deformada, perna essa que seria amputada anos mais tarde. Aos 18 anos sofreu um grave acidente de bonde, cujas ferragens transpassaram a pélvis, coluna e pernas, provocando várias fraturas pelo corpo.  Por conta desse acidente, sofreu vários abortos espontâneos ao longo da vida. Mesmo com todos esses percalços da vida, Frida transformou todo o seu sofrimento em fonte de criação.

“Pintar completou minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas, que teriam preenchido minha vida pavorosa. Minha pintura tomou o lugar de tudo isso. Creio que trabalhar é o melhor”.


“Eu sou a DESINTEGRAÇÃO...”

A coluna partida, 1944
Filha de uma descendente de astecas e espanhóis e de um fotógrafo alemão de origem judia, Frida não tinha planos para se tornar artista, apesar de ser esse um dos passatempos de seu pai. Porém, durante o período de recuperação, ela descobriu na pintura uma janela não só para o mundo exterior como também uma forma para preencher sua própria vida.  Durante muito tempo, só o que via era a sua própria imagem refletida no espelho fixado acima de seu leito. Daí surgiram seus primeiros auto-retratos, cercados de símbolos e referências que expressavam seus sonhos e dores.

“Pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.

Eu e meus papagaios, 1941

Tão logo se livrou das ataduras e do gesso, já havia se decidido a se dedicar à pintura e não demorou muito para que vários artistas e críticos vissem em seus quadros algo único e arrebatador. Em sua primeira exposição individual no México, um crítico local escreveu: “É impossível separar a vida e a obra desta pessoa extraordinária. Suas pinturas são sua biografia.”

Casou-se aos 22 anos com o muralista Diego Rivera, sua grande paixão e 22 anos mais velho que ela. Foi uma relação tumultuada, marcada por relações extraconjugais, mas também com profunda cumplicidade pessoal e artística.
Diego manteve vários relacionamentos, inclusive com a irmã da pintora. Frida, por sua vez, não fazia questão de esconder seus casos tanto com homens como mulheres. Um de seus amantes, o revolucionário Leon Trotsky, via em Frida, além de uma rara beleza, a vitória da vitalidade contra quaisquer obstáculos.


“Eu sofri dois acidentes graves na minha vida...
Um em que um bonde bateu (...) e o outro foi Diego.”


Frida e Diego eram ativistas do Partido Comunista no México. No início de julho de 1954, Frida fez sua última aparição pública, quando ela participou de uma manifestação comunista de rua. Morre pouco tempo depois, aos 47 anos de idade. Uma vez, quando perguntaram o que ela queria fazer com o seu corpo quando morresse, respondeu: “... Eu não quero ser enterrada, passei muito tempo deitada... queime-o!” E assim foi.
Frida Kahlo morreu em Coyoacán em 13 de julho de 1954 e a sua casa, onde viveu durante toda a sua vida, conhecida como A Casa Azul, é transformado no museu que leva o seu nome.

Hospital Henry Ford, 1932

Doodle do Google- homenagem  a Frida Kahlo
O amor abraça o universo, 1949
Viva la vida, 1954



"9 de novembro de 1951

Menino-amor. Ciência exata.
vontade de resistir vivendo
alegria saudável. gratidão infinita
Olhos nas mãos e
tato no olhar. Limpeza
e maciez de fruta. Enorme
coluna vertebral que é
base para toda a estrutura
humana. Um dia veremos, um dia
aprenderemos. Há sempre coisas
novas. Sempre ligadas à
antiga existência.
Alado - Meu Diego meu
amor de milhares de anos.
Sadga. Yrenáica
Frida.
DIEGO"


Fonte:


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Exposiçao Índia

"Ó você que é o ornamento supremo de de todo o sistema solar!
Ó você que corta as ataduras do mundo material!
Ó cisne que caminha bem-aventurado no lago das mentes
dos sábios introspectivos! Deva! Hare! Todas as glórias a você!"

(Trecho de um poema do livro Gita Gofinda escrito por volta do século XII)

Melhor que ir a uma boa exposição é ir a uma boa exposiçao em companhia agradével de alguns amigos.  Foi o que eu fiz no último fim de semana. Combinei com algumas amigas que não via há algum tempo e fomos apreciar a exposição "ÍNDIA" que está no CCBB do Rio de Janeiro.  Uma exposição temática e interativa que abrange 3 mil anos de cultura de um dos países mais religioso e tradicional que existe.

Logo que entramos no CCBB encontramos uma escultura de Ganesha, uma das mais conhecidas representações de um deus indiano. É o deus da sabedoria, o portador da sorte e o removedor de obstáculos.  

Representação de Ganesha

No segundo piso, na primeira sala da exposição, encontramos a sala dos objetos utilizários.
Esses objetos revelam um pouco do cotidiano do indiano. Encontrado nos mercados e nas feiras, esses objetos são manufaturados de forma artesanal em vários tipos de matéria prima. Uma característica comum desses objetos é que, todos são ricamente adornados e trabalhados mesmo os objetos usados no dia a dia, aliando assim beleza e funcionalidade às peças.






Seguimos para a sala da música e da dança.
Segunda as escrituras sagradas, todas as artes da Índia têm origem divina, por isso, muitos elementos ligados à música e à dança possuem aspectos místicos e religiosos, que podem ser observados até os dias de hoje”.
Os instrumentos musicais da Índia são conhecidos por sua beleza e variedade de formas. Muitos deles estão associados às várias divindades e integram as imagens desses deuses, como atributos.
Sitar
Pungi (sopro) e Tabla (percussão)

Os tecidos, as tapeçarias, o vestuário

Machubani são pinturas feitas pelas mulheres das aldeias do leste da Índia. Eram feitas diretamente nas paredes de barro das cabanas, hoje muito usada também em papeís artesanais e telas.
Pinturas que retratam, principalmente, a natureza e motivos religiosos hindus, tendo as divindades  Krishna, Shiva e Lakshimi como temas principais.
 
Machubani

Machubani - detalhe

A história contada através dos bonecos

A narração de histórias com bonecos de fantoche é muito popular na Índia. Os bonecos são confeccionados dos mais variados materiais. Há também os compositores contadores de histórias itinerantes, que vagam de um lugar a outro levando suas imagens pintadas em rolos de papel, telas ou madeira.


Teatro de bonecos

Cada boneco mede uns 30 cm.

 Teatro de sombras (Tolu bommalatta)

O teatro de sombra é o costume pelo qual os contos folclóricos locais se espalhavam por todos os cantos da Índia. Os bonecos são feitos de couro e muitos deles são seres que representam o bem e o mal, seguindo a filosofia de que o bem sempre vence o mal. Os espetáculos do teatro de sombras podem durar até 9 horas consecutivas e são realizados sempre ao ar livre.



O cinema indiano

Engana-se quem pensa que Hollywood é o maior produtor de filmes do mundo. Não, não é. O país que mais produz filmes no mundo é a Índia, em terceiro lugar vem a China. Bollywood está localizado em Mumbai (Bombaim) a maior cidade da Índia e seu nome vem da mistura de Bombaim e Hollywood.
As produções abordam desde os temas mais tradicionais à questões que até bem pouco tempo eram tabus.

Alibabá e os 40 ladrões, um clássico!

O vestuário indiano

Ao entrar na sala dos vestuários, lembramos de Juliana Paes em Caminha das Índias. Linda, vestindo aqueles saris coloridos, cada um mais lindo que o outro. O sari é constituído de uma longa peça de pano, de aproximadamente 6 metros, que envolve e cobre todo o corpo da mulher indiana. Cada região tem seu próprio mode de vestir o sari.

- Me perdoe pela má qualidade de algumas fotos.




Raphael ao lado de um luxuoso traje masculino.

A Índia e alguns de seus veículos curiosos:

Tuc-tuc

Uma bicicleta ou um triciclo?

Vou ficar devendo a vocês as imagens da "sala cinza", são imagens religiosas e essas não podiam ser fotografadas.





Isso é só uma parte dessa grande exposição sobre a Índia. Tem ainda a fotografia, a Índia moderna, tecnológica e econômica. A Índia que é a maios produtora e consumidora de softwares para computador do mundo.  Mas seria muita foto e muita coisa para esse humilde blog. Aproveita que a exposição vai até janeiro de 2012 e passa no CCBB para conferir tudo isso e mais um pouco.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

David Lachapelle

Seu primeiro trabalho como fotógrafo foi na revista americana Interview fundada por Andy Warhol.  Suas fotografias foram capas de grandes revistas como Vogue, Rolling Stone, Interview, Vanity Fair e já produziu capas de álbuns de músicos como Macy Gray, Whitney Houston, Mariah Carey, Elton John, Madonna, além de trabalhos publicitários para as marcas L’Oreal, MTV, Diesel Jeans, Ford, Sky Vodka, etc.
Para mim é um dos melhores fotógrafos da atualidade.  Suas fotografias se difere de outros profissionais pela sua ousadia em criar imagens surreais e bizarras, com um colorido forte e ultra saturado em um cenário que mistura o inusitado cômico e o glamour das personagens.
É fácil reconhecer um trabalho de LaChapelle, sua temática é única e seu jogo de cores exagerado cria um mundo surreal onde tudo o que compõe a imagem é peça importante para a composição da mesma.

A ousadia de um fotógrafo brilhante
Deliciem-se!!
Suas imagens fantasiosas são compostas por relvas, jardins absurdamente verdes.
Angelina Jolie
As personagens de suas obras nunca estão longe da objetiva de sua lente, porém longe o suficinete para que seu corpo se comunique com a imagem.
Suas personagens são deslocadas no tempo e espaço, em situações opostas às do mundo real,
ou no mínimo opostas às que nos habituamos a ver.
O caos e o glamour!

A temática de Lachapelle é mostrar imagens diferentes às que estamos acostumados a ver, mesmo que, essas imagens nos chege com referências à imagens anteriores.
A venus contemporânea
Alguma semelhança com O nascimento da vênus de Botticelli?
Um dos pioneiros na arte da manipulação digital, conferindo às suas obras um efeito único.
cores, cores, cores

Apenas David LaChapelle poderia fotografar uma Bjork com um olhar pouco atraente.
Bjork, by Lachapelle

Polêmico:
O artista choca ao recriar imagens que lembram cenas bíblicas e mistura em suas obras, celebridades e ícones máximos da religião cristã.





Será uma pietà dos dias de hoje?
Courtney Love, by Lachapelle

Aqui ele faz uma representação de Michael Jackson nos braços de Jesus.
American Jesus: Hold Me, Carry Me Boldly, Hawaii

sábado, 22 de outubro de 2011

O mito de Eco e Narciso


O mito de Narciso é sem dúvida o mais comentado da mitologia grega, dele tem origem o termo narcisismo, que ao pé da letra significa "paixão por si mesmo". O mito de Narciso tem relação com o mito da ninfa Eco. A versão que escrevo abaixo é do livro de Thomas Bulfinch (1796-1867) chamado "O livro de Ouro da Mitologia".


Eco falava demais e foi castigada
Se apaixonou e foi desprezada.
Pobre Eco, ela só queria ser amada.

Para Narciso não havia beleza igual a sua
O orgulho o cegou.
Pobre Narciso, morreu
Desejando a imagem refletida.

Eco, Alexandre Cabanel
Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava demais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra.

Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão, que estivesse se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras:

- Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.

A ninfa viu Narciso, um belo jovem, que perseguia a caça na montanha. Apaixonou-se por ele e seguiu-lhe os passos. Quanto desejava dirigir-lhe frases gentis e conquistar-lhe o afeto! Isso estava fora de seu poder, contudo. Esperou, com impaciência, que ele falasse primeiro, a fim de que pudesse responder. Certo dia, o jovem, tendo se separado dos companheiros, gritou bem alto:

Eco e Narciso - Nocolas Poussin
- Há alguém aqui?

- Aqui – respondeu Eco.

- Narciso olhou em torno e, não vendo ninguém, gritou:

- Vem!

- Vem! – respondeu Eco.

- Por que foges de mim? – perguntou Narciso.

Eco responde com a mesma pergunta.

- Vamos nos juntar – disse o jovem.

A donzela repetiu, com todo ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta a se lançar em seus braços.

- Afasta-te! – exclamou o jovem recuando. – Prefiro morrer a te deixar possuir-me.

- Possuir-me – disse Eco.

Mas tudo foi em vão. Narciso fugiu e ela foi esconder sua vergonha no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo definhou, até que as carnes desapareceram inteiramente. Os ossos transformaram-se em rochedos e nada mais dela restou além da voz. E, assim, ela ainda continua disposta a responder a quem quer que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra.

A crueldade de Narciso nesse caso não constitui uma exceção. Ele desprezou todas as ninfas, como havia desprezado a pobre Eco. Certo dia, uma donzela que tentara em vão atraí-lo implorou aos deuses que ele viesse algum dia a saber o que é o amor e não ser correspondido. A deusa da vingança ouviu a prece e atendeu-a.

Narciso - Caravaggio
Havia uma fonte clara, cuja água parecia de prata, à qual os pastores jamais levavam rebanhos, nem as cabras monteses freqüentavam, nem qualquer um dos animais da floresta. Também não era a água enfeada por folhas ou galhos caídos das árvores; a relva crescia viçosa em torno dela, e os rochedos a abrigavam do sol. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede. Debruçou-se para desalterar-se, viu a própria imagem refletida na fonte e pensou que fosse algum belo espírito das águas que ali vivesse. Ficou olhando com admiração para os olhos brilhantes, para os cabelos anelados como os de Baco ou de Apolo, o rosto oval, o pescoço de marfim, os lábios entreabertos e o aspecto saudável e animado do conjunto. Apaixonou-se por si mesmo. Baixou os lábios, para dar um beijo e mergulhou os braços na água para abraçar a bela imagem. Esta fugiu com o contato, mas voltou um momento depois, renovando a fascinação. Narciso não pôde mais conter-se. Esqueceu-se de todo a idéia de alimento ou repouso, enquanto se debruçava sobre a fonte, para contemplar a própria imagem.

- Por que me desprezas, belo ser? – perguntou ao suposto espírito – Meu rosto não pode causar-te repugnância. As ninfas me amam e tu mesmo não pareces olhar-me com indiferença. Quando estendendo os braços, fazes o mesmo, e sorris quando te sorrio, e respondes com acenos aos meus acenos.

Suas lágrimas caíram na água, turbando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:

- Fica, peço-te! Deixa-me, pelo menos, olhar-te, já que não posso tocar-te.

Com estas palavras, e muitas outras semelhantes, atiçava a chama que o consumia, e, assim, pouco a pouco, foi perdendo as cores, o vigor e a beleza, que antes tanto encantara a ninfa Eco. Esta se mantinha perto dele, contudo, e, quando Narciso gritava: “Ai, ai”, ela respondia com as mesmas palavras. O jovem, depauperado, morreu. E, quando sua sombra atravessou o rio Estige, debruçou-se sobre o barco, para avistar-se na água.

As ninfas o choraram, especialmente as ninfas da água. E, quando esmurravam o peito, Eco fazia o mesmo. Prepararam uma pira funerária, e teriam cremado o corpo, se o tivessem encontrado; em seu lugar, porém, só foi achada uma flor, roxa, rodeada de folhas brancas, que tem o nome e conserva a memória de Narciso.

Flor de narciso (Narcissus cyclamineus)