The seducer, Renè Magritte |
A viagem
Aparelhei o barco da ilusão
e reforcei a fé de marinheiro
era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar..
Só a nós é concedida
esta vida que temos;
e é nela que é preciso procurar
o velho paraíso que perdemos.
Prestes, larguei a vela
e disse adeus ao cais,
à paz tolhida
Desmedida,
a revolta imensidão
transforma dia-a-dia a embarcação
numa errante e alada sepultura...
mas corto as ondas sem desanimar
Em qualquer aventura
O que importa e partir,
não é chegar.
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga (1907-1995)
Poeta e contista, tido como um dos mais importantes poeta e escritor português do século XX.
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